segunda-feira, 17 de março de 2008

Notícias rápidas e memórias

Meus queridos(as)!
Desculpem-me pelo sumiço, mas tenho trabalhado muito na redação do capítulo da tese. Está sendo bom rever Eisenstein e fazer as pazes com meu passado cinemático. Falando em passado, achei um trecho do meu mestrado que me fez rir muito aqui nessa ilha deprimente, é uma pequena cena que adaptei de contos do Plínio Marcos para meu mestrado (blog oficial falecido em http://macuqueiros.blogspot.com/). Abaixo uma foto de Igor, ex-aluno representando a famigerada "negrinha Marion". O texto vai abaixo também. Beijos e até.

– A farsa de Bacalhau e Marion (adaptado de Plínio Marcos)

BACALHAU - Vivo amargando o talo aqui no cortiço do assanhado. Vou levando sem chiar que eu to afim é di-me arrumar.
MARION – Se arruma aqui com a neguinha pai! Te garanto que não vai faltar teleco-teco no balaco-baco do seu bacalhau! Vamô amargá o talo juntos?
BACALHAU - Ai meu jesusinho!
MARION (para a platéia) – Já liguei minha antena no buchicho que esse portuga unha-de-fome esta é montado na grana.
Assim, ligada nesse bafo,
a negrinha Marion, diva do esculacho
pistoleira escolada por muitos anos de janela,
começou a paquerar o Portuga requenquela.
BACALHAU (para a platéia) – Queres cair fora da piorada que leva?
Ora pois vamos a ver quem será o requenquela!
MARION (para a platéia) – Tô ligada na tabuada das candongas e sei que trouxa não precisa de grana. Quero botar a mão nessa bufunfa!

Marion agarra a bunda do Bacalhau e eles pulam como se estivessem no carnaval da Bahia enquanto falam com a platéia:

MARION (para a platéia)-
Acreditando pacas na sua embaixada
e na pinta de bobo do portuga,
a crioula levava fé no remelexo.
Olhava pro Bacalhau e via um bilhete premiado.
E tome dengo.
BACALHAU (para a platéia) –
O portuga, que de otário só tinha a fuça, dava carga e se servia.
Ninguém falava em dinheiro até que chegou o dia do esquinapo.
Certa de que o seu cupincha estava entrutado no seu chamego, a Marion meteu ficha:

MARION – Tou precisada de uma grana. É pra tirar um bacuri, que não pode ser: e tu que tem culpa!
BACALHAU - Saquei o chaveco! Tu não é de parir faz tempo! Deixa nascer!
MARION – Vem cria, tu dá o pinote e eu fico aí, no ora veja com nenê berrando e tudo?
Quero grana. E já!
BACALHAU - Ora, ora... pois, pois... se eu fosse rico, não era cobrador na linha 19 e nem moraria nessa bocada escamosa!
MARION – Quer ir pro pega-pra-capar?
Passa a grana já!
BACALHAU – Não quero nem saber.
Meu lance é faturar e amarrar o burro na sombra.
Sai dessa negrinha, se não vai baixar a lenha dura.
MARION – Tô sabendo dessa sua lenha dura...
Pode bufar mas quero grana já!
BACALHAU - Aiii que hoje vai ter perereco no cortiço do assanhado!

Eles se batem em silencio. Entra a menina:

MENINA -
Mestre Zagaia, velho cabo de esquadra
que navegou sem bandeira
por águas barrentas
e que embrulhou a solidão
em muito lençol encardido,
escancarou nas Tabuadas das Candongas
uma valorosa dica:
"Depois dos panos arreados, o espetáculo é sempre o mesmo".
E se Mestre Zagaia falou, tá falado.
Mas deixa isso de lado.

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