Imagem de Keith Haring que não sei o nome mas me lembra "o sócio-pata conquistador" como definido por Acácio Pagan.
Essa viagem ao rio me deixou quase sem palavras. Para mim ainda é difícil de entender nossos “encontros e desencontros” que ao contrário do filme de Sophia não tem quase nenhum encanto. Estou na estrada digitando estes pensamentos enquanto ainda me lembro das ruas do rio e da sua cara encantadora. Resolvi escrever para entender e para aproveitar a máxima dos Carpenters de tudo que você consegue do amor é uma canção de amor, sendo assim escrevo essa canção para ti, rememorando todos os momentos que tivemos desde o primeiro olhar ate o ultimo silêncio.
Uma vez no mundo paralelo da internet encontrei um sujeito baiano, mestiço de índio com holandês, brasileiro legitimo, protegido de oxumaré. Tinha olhos encantadores, oblíquos como os de Capitu, puxados e vesguinhos. Durante várias madrugadas não pude olhar para outra coisa que não fossem estes olhos. Conversávamos por horas e horas ate o raiar do dia e era uma conversa que neste instante enche meus olhos de melancolia pois agora sei que era pura conversa fiada de um desequilibrado. Pauso um pouco a redação para ver se voce finalmente deu algum sinal de vida no celular para dizer tchau ao menos, mas nada. Como companhia só o som dos Stone Roses; sinto um aperto no meu peito. Tudo esta mascarado pelo mau cinema canta Françoise Hardy em "to the end - comedie" versão francesa. Miséria carioca lá fora em breve será emendada pela miséria paulista, cordão umbilical: Dutra. Ontem na noite dos jogos entre meninos (eternos), a boate, percebi depois de beijar dois semi-desconhecidos, que somos os próprios meninos perdidos na terra do nunca e que não vamos sair de lá nunca, nem crescer, condenamos a uma velhice patética vestida de sunga nas areias do posto 9, falando mal uns dos outros. Praguejando contra o tempo...
Aquelas conversas que tínhamos aqueciam muito meu coração, atrapalhavam meu trabalho, me deixavam contente e preocupado. Sabia que era um momento especial compartilhado e correspondido pela sua enxurrada de palavras, das quais selecionei uns trechos e colo abaixo:
menino rodrigo, não preciso dizer que você não sai da cabeça.
entro mil vezes no orkut para ver sua foto de língua de fora, abro mais mil as fotos das mensagens que você mandou pelo celular. leio seu about me como se estivesse lendo bula de remédio, tentando descobrir mais de você e ficar um pouco mais perto. abraço travesseiros como se tivessem 1,72 e barba pra ver se eu sonho mais um pouco.
e sério, tenho tido as melhores noites em muito tempo, vendo você pela cam e amanhecendo o dia esperando pelas suas reações a todas as besteiras que eu escrevo (...)
Lembra do Charles Laughton naquela noite pré trepada: liar, liar, liar. Pois é, antes fosse o personagem de Marlene Dietrich, mentindo por amor, mas como você mesmo disse em algum momento, você é só uma bicha de Ipanema. Rio de Janeiro, zona sul, tenho uma opnião a respeito e gostaria de dizer que o Rio é maravilhoso, especialmente no verão, como turista, e se você tem algum dinheiro no bolso pronto para curtir as superficialidades. Só um tapinha nao dói! Agora, se você pensa em qualquer coisa diferente do coito breve, gozo 1,99, la é uma terra putrefada, putrida de putos (com raríssimas e honrosas exceções). Dai serão vários tapinhas e a dor vai ser imensa, uma hora ou outra.
Penso em você naqueles dias de internet até o limite que me impus: este "te amo em potência", deveria ser testado o mais rápido possível, não poderia ficar com essa dúvida na cabeça. Fui para outro estado só para isso, cheguei amassado e de mau humor, mas ver que você existia, a alegria que estava no seu olhar no nosso primeiro beijo, sentir seu gosto, seu hálito. Até tomei vitamina de frutas batidas! Nada de whisky, era maça mesmo. Ficar aqueles dias na sua casa, abraçado quase o tempo todo, conversando, trocando filmes e músicas foi muito especial. Senti muita identificação contigo ainda que você tivesse este corpão (rodado). Por isso quando estava indo para o cadafalso dos falsos prazeres na terra do nunca que fica na rua raul pompéia, te mandei via celular: saudade. Só isso. Era uma forma de pedir socorro também. Estou sentindo sua falta ainda que você só mereça meu desprezo. Está ai a lama tantas vezes chafurdada em nosso cancioneiro popular. Restam 38% da bateria de meu computador e penso em ficar digitando até o final. Acaba de chegar uma mensagem no meu celular, não é sua mas de meu amigo-amante-querido carioca dizendo ciao e boa viagem. Sobre isso a única coisa que posso comentar é: enquanto tudo é jogo, enquanto temos um distanciamento calculado do outro, tudo parece funcionar bem. O problema sempre foi o salto de bungee jump.
Desliguei o celular agora 16.20. Olhei pela ultima vez as suas fotos la. Silêncio.
Aproveitei que chorei um pouco e tirei umas fotos. Não ficaram boas porque com o calor tropical as lágrimas secam rápido no rosto. (2 de dezembro de 2007)